Henrique Medeiros, presidente da Academia Sul-mato-grossense de Letras, reverenciou o Estado em artigo
Henrique Alberto de Medeiros Filho
Pois é. Mato Grosso do Sul, 45 anos. Algumas gerações sul-mato-grossenses. E, inacreditavelmente, ainda tem gente por aí que consegue querer discutir o nome do nosso Estado. Espantosamente, bradam por outras soluções vocativas. Às vezes não acredito no que ouço ou vejo. O mundo discute a Inteligência Artificial, navegamos por um mar de confrontos ideológicos, todos tentam se proteger das marolas desses tempos, e ainda é possível alguém retornar ao tema do nome do Estado de Mato Grosso do Sul.
Onças, capivaras, tuiuius, jacarés, pintados, piraputangas e pacus sabem por onde estão entre cerrados, pantanal e camalotes mas não são alfabetizados e desconhecem o nome onde sobrevivem. E alguns alfabetizados parecem não conseguir, pela sua cegueira por entre a história, enxergar as letras que formam o Estado de Mato Grosso do Sul. E toda a formação da autoestima de sua população, separada dos siameses Guaporé-Rondônia e depois de Mato Grosso. Pela nossa história somos o Estado da Guerra do Paraguai. Somos o Estado da Tríplice Aliança. Somos o Estado da Revolução Constitucionalista. Somos o Estado Separatista. Somos o Estado do Pantanal, patrimônio natural da humanidade. Somos o Estado da Erva-Mate. Somos o Estado do Trem do Pantanal. Somos o Estado dos Guaranis, Terenas, Caiuás, Kadiwéus, Caiapós Etc. Somos o Estado do Agronegócio. Somos o Estado do Chamamé, Tereré e Quebra-Torto. Somos o Estado das Fronteiras com o Paraguai e a Bolívia, com Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Somos o Estado de Riquezas Minerais. Somos o Estado onde Manoel de Barros se transformou em sul-mato-grossense em seu mundo mágico da poesia.
Somos o Estado de Jânio Quadros, Ney Matogrosso, Aracy Balabanian, Rubens Corrêa, Glauce Rocha, Luiza Brunet, Helena Meirelles, José Fragelli, Almir Sater, David Cardoso, Reginaldo Leme, Tetê Espíndola, Tia Eva e tantos. Somos o Estado das Bandeiras e Expedições. Somos o Estado da diversidade cultural, influenciada por povos indígenas, paraguaios, bolivianos, gaúchos, japoneses e outros. Somos muitos Estados que nos levam a entender os atuais 45 anos do nome do Estado de Mato Grosso do Sul: É defender sua trajetória, sua identidade e seu desenvolvimento. É evocar suas origens e autoestima, conhecimento histórico, cultural, personagens, pesquisa, desafios, motivações, construções físicas e intelectuais.
Mudar, a esta altura, o seu nome, seria negar as nossas raízes, os nossos valores, os nossos símbolos que há quarenta e cinco anos introjetamos e construímos em nossos corações e mentes sul-mato-grossenses de antigas e novas gerações. Além do quê, mudar o nome é um imenso desperdício de tempo e dinheiro públicos. Tudo bem, qualquer pessoa insatisfeita com seu nome pode ir ao cartório e solicitar mudança. Mas, quem disse que os atuais cerca de dois milhões e oitocentos mil sul-mato-grossenses sentem-se assim? Eu, por exemplo, tenho honra e paixão em dizer que sou MS; tenho orgulho de ser sul-mato-grossense. E nem me passa pela cabeça desperdiçar presente e futuro em discutir bobagens, futilidades, perda de tempo tão grande como em pleno início de século XXI abordar mais uma vez tema sobre a mudança do nome de nosso Estado. E me espanto com os que assim se manifestam.
* Henrique Alberto de Medeiros Filho é publicitário, jornalista, escritor, cadeira 10 e presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras